
FOLOPULAR – 23 ANOS DE UMA TRAJETÓRIA QUE PRECISA SER CONTADA

No sábado, 01/06/24, o “Grupo de Dança Folopular” completou 23 anos de existência e atuação. E quem, como cidadão bezerrense nunca ouviu falar desse grupo ou nunca assistiu uma de suas apresentações em tantos eventos e comemorações da cidade ao longo desses anos? A maioria das pessoas que residem na cidade de Bezerros provavelmente já ouviu falar no “Grupo Folopular”, ou lhe assistiu em algum evento festivo. E por isso, hoje na coluna “CONTANDO A HISTÓRIA”, vamos embarcar um pouco mais na história desse grupo, que além de levar o nome de Bezerros e a sua cultura para o Brasil, tem uma linda e irável trajetória que inspira vidas. Vamos lá conhecer!
O COMEÇO

De acordo com informações cedidas pela Professora e Diretora do grupo, Mileide Santos, o Grupo de Dança Folopular, foi criado em 1995, com “o propósito de resgatar e valorizar a cultura nordestina, em especial a tradição do Papangu”. Porém, naquela época, as apresentações eram bem simples e ocorriam apenas na cidade e na zona rural , e os apresentadores não anunciavam Folopular, eles diziam “vem aí o grupo da professora Mileide”, relembra a educadora orgulhosa do grupo, onde ela permanece a frente, conduzindo até hoje, desde a sua criação. Na foto acima: a primeira apresentação em praça pública, em frente a Prefeitura Municipal, no aniversário de Bezerros (maio de 1995).

Embora o Grupo de Dança Folopular tenha sido criado em 1995, somente veio a ser registrado em junho de 2001.
As fotos enumeradas são dos registros mais antigos sobre as apresentações do Folopular em seu início.
Foto 1: Inauguração do Anfiteatro da Serra Negra. Primeiro Grupo a se apresentar no Pólo Cultural da Serra. Foto 2: Primeira Comissão de Frente de bandas marciais em Bezerros (1998), Banda do Irmã Júlia. Foto 3: Na Estação da Cultura, para recepcionar os turistas que vinham no Trem do Fórro, de Recife a Caruaru, e posteriormente dançarem uma ciranda numa grande roda com eles no Largo da Estação. Foto 4: A Bonequinha do Fórro, no Auditório da Estação da Cultura, ao som do pé de serra de Zezé e Zezita, e de Manassés Mour.

Completando em 2024, seu 23º aniversário, ou seja, 23 anos de muita dança e integração social por meio da educação. Sim, isso mesmo! “Integração e educação”, pois engana-se quem acha que o Folopular é apenas um grupo de danças folclóricas. O “objetivo é ocupar o tempo de crianças e jovens fora do seu horário escolar, evitando assim a ociosidade e a convivência na rua”.

Na biografia referente ao Folopular consta que “o grupo funciona como terapia ocupacional onde suas atividades abrangem pesquisas, aulas práticas e teóricas. Trata- se de um trabalho integrado ao processo de ensino aprendizagem, visando uma ampla divulgação das manifestações folclóricas, agindo com perseverança na busca de conhecimento dos nossos anteados”.

E de acordo com a norma geral do grupo, o Folopular tem, sobretudo, a responsabilidade de divulgar a tradição dos “Papangus de Bezerros”, não apenas no período carnavalesco, mas durante todo o decorrer do ano.
E assim, por meio de suas belíssimas apresentações, leva a cultura bezerrense para diversas partes do Brasil, através das participações em diversos festivais, encontros, convenções, mostras culturais, concursos, entre outros.

Atualmente o grupo conta com 62 integrantes, e a idade mínima para ingressar no Folopular é a partir dos 3 anos, sem limite de idade para sair do grupo.
Hoje, entre seus componentes estão crianças, adolescentes e adultos, e entre eles, há pais e filhos de uma mesma família, casais que se conheceram no grupo, e os pequenininhos, filhos de ex-dançarinos, e também de integrantes participantes. E dessa forma, o Folopular vai ando de geração para geração, assim como as tradições e costumes que o grupo apresenta em seus belos enredos folclóricos através da dança.
O FOLCLORE E O FOLOPULAR

Sabemos que o “conhecimento de um povo” ou a “sabedoria de um povo”, ou ainda, “as tradições populares”, tudo o que é ado de geração em geração, é o que chamamos de folclore. Todavia, esse termo é originário da palavra inglesa “folklore”, cuja junção “folk” significa “povo”, e “lore” significa “tradição”, “saber”, “conhecimento”, então, em resumo, folklore é o conjunto das “tradições de um povo”, embora nos dias de hoje, existem muitos folcloristas buscando ainda definir o termo, pois sua amplitude de aspectos sobre a história e tradições é dimensional.

Essa expressão inglesa “folklore” foi usada pela primeira vez em 22 de agosto de 1846, por um britânico, o arqueólogo, antiquário e escritor, William John Thoms, que usando o pseudônimo de Ambrose Merton, sugeriu através de uma carta enviada para o jornal periódico The Athenaeum (publicado em Londres, de 1828 a 1921), que até então, o que era definido como “antiguidades populares” ou “conjunto de tradições”, fosse substituído pelo termo “folklore”, que compreendia o significado do “conjunto das tradições populares”.
E por esse motivo o folclore no Brasil tem seu dia comemorado em 22 de agosto, data que foi instituída no ano de 1951.

Em território brasileiro o termo “folclore” adaptado à língua portuguesa, só ou a ser estudado em meados do século XIX, ainda que sem grande ascensão, porém os estudos se consolidaram no século XX. E, portanto, sabe-se que o “conjunto das tradições e manifestações populares, transmitido através das gerações”, é o que chamamos de Folclore, e inserido nessas tradições e manifestações estão os mitos, lendas, contos, literatura, provérbios e jargões, canções, ritmos, músicas, danças, costumes e festas populares. Sim, mas o que isso tem a ver com o Grupo de Dança Folopular? Tudo! Pois o Folopular em seus espetáculos preza pelo resgate e disseminação da cultura popular, das tradições, contando histórias e apresentando a arte e os costumes contidos na nossa cultura, por meio da dança, através de belíssimas e encantadoras apresentações.
O QUE É QUE O FOLOPULAR TEM DE TÃO ESPECIAL?

Onde está a maior beleza do Folopular? Será nos movimentos e cores, nas vestimentas e máscaras, no repertório das músicas selecionadas, na apresentação tão ritmada, nos adultos, nos adolescentes ou nas crianças? Que brilho é esse? Que “alumia tudo” como diria o matuto. Que negócio é esse que faz a gente se emocionar, rir ou chorar, querer dançar também. Que faz a gente desejar ser o cangaceiro, Maria Bonita ou o Lampião, o ista de frevo, o forrozeiro, o Mateus, a Catirina, a boneca de pano ou o Papangu, ou mesmo qualquer outro personagem que adentre o palco e se espalhe como purpurina brilhante e colorida jogada ao vento, exaltada pela luz e encandiando tudo, todos os olhares de iração.

A beleza do Folopular está na família, na família que eles todos são. Está na harmonia e nos detalhes que compõem o todo. Pois é tudo planejado em grupo, debatido juntos, pensado minuciosamente, confeccionado com amor e muitos esforços, em meio a noites em claros, dedos furados pelas agulhas, lágrimas derramadas pelo medo de não dar tempo do figurino ficar pronto para a apresentação, e do pés doloridos pelos esforços de outras apresentações, ou mesmo por causa do sapato apertado. Mas tudo isso desaparece quando eles entram em cena, e se agigantam em seus espetáculos fascinantes e contagiantes, pois naquele momento a dança lhes alivia, se torna antídoto para suas dores e dissabores, a dança lhes cura, cicatriza, enxuga suas lágrimas, enaltece, e renova as esperanças de todos, a cada música, a cada movimento, a cada apresentação.
OS DETALHES QUE FAZEM A DIFERENÇA

O destaque do Folopular não é só pelos seus belíssimos figurinos e apresentações espetaculares, e sim, pelos “detalhes” que compõem todos eles. Pelo amor e dedicação que são devotados por cada um ao grupo. O detalhe está na sombrinha de frevo, no chapéu de couro, na cabaça e na cartucheira da Maria Bonita, na tiara do cabelo, ou na flor que enfeita o coque das meninas. O detalhe está no chapéu com brilho e lantejoula, nas saias de tantos babados, na sandália de couro, ou na arma do cangaceiro. Mas, cá entre nós, o detalhe maior está nos rostos de cada um deles, nessas diferenças de cores, de cabelos lisos ou encaracolados, nos sorrisos e olhares, na alegria estonteante, nas testas franzidas pelo cansaço do corpo exausto, ou naquele pequenininho que fica amuado já querendo ir para casa. O detalhe está em tudo, na forma como eles se conduzem, como a grande família que são, de sobrenome Folopular.
A MAESTRIA POR TRÁS DE CADA DANCARINO E DE CADA APRESENTAÇÃO

Se há 23 anos atrás nascia oficialmente o Folopular, há 38 anos iniciava-se profissionalmente uma mulher, negra, na área da educação, que mal sabia ela a grande responsabilidade que teria, a mudança que provocaria na vida de tantos seres humanos, e o papel social fundamental que desenvolveria com a sua atuação, empoderamento e dedicação na educação através da dança. Mileide Santos, desde sempre a professora e coordenadora geral do Folopular.

Mileide é a mulher que segura a tudo e a todos com sua força aguerrida, mesmo sentido todas as dores e angústias pessoais que esse mundo lhe afronta. A mulher mãe de dois filhos biológicos, avó de um neto que faz parte do grupo, e mãe dos mais de 1600 integrantes que já aram pelo Folopular ao longo desses 23 anos. Mileide é o antônimo de procrastinação, porque ela nunca pára, nunca se rende ao cansaço, nunca desiste da luta, tão pouco da guerra. Ela nunca desiste de nenhum dos seus. É leoa feroz defendendo seus filhotes, é mulher que por tantas vezes injustiçada, subestimada, ignorada, não se abateu, não desistiu quando o mundo tantas vezes lhe disse não.

Mileide é mulher valente! Quem sabe prima de Maria Bonita, bisneta de cangaceiro, prima do saci, do curupira ou irmã da comadre fulozinha. Ela é arretada! Inteligente, comunicativa, proativa, humilde, empática, brava quando tem que ser, adocicada quando necessário, sinônimo de arte. Porque foi “fazendo arte” onde tudo começou. Pintando rostos infantis com tinta guache, ela iniciou sua carreira, e foi com esse trabalho de pintura facial, tão digno e lindo, que em 2005 ela bateu seu recorde de pinturas, e com o dinheiro que ganhou conseguiu colocar o piso de sua casa, que antes era piso de metralha batida, e que ela rememora até hoje, orgulhosa de suas lutas. Mileide é exemplo de vida! Exemplo de mulher a ser seguida, irada. respeitada. Ela é o patrimônio vivo mais valioso do Folopular, porque talvez, ou certamente, sem ela, a história do Folopular tivesse se perdido lá trás. O importante é que Mileide não se desviou do caminho, não abandonou o barco nas horas mais difíceis, é mulher grata pela vida, que não desacreditou de sua fé e nem de seu Deus.
OS ESPETÁCULOS DO FOLOPULAR

Como não se encantar quando o espetáculo do Folopular começa?! Como não se irar, não se fascinar pela contagiante energia das danças culturais, e que traz tanto de nós, dos nossos anteados, da nossa infância, da nossa identidade sertaneja, nordestina, brasileira. Como não se orgulhar do nosso ilustre e irreverente Papangu em cena o ano inteiro, nos lembrando que a tradição não morreu, que ele sobreviveu e vive por trás de cada máscara, morando na essência do pulsar do coração de cada componente dançarino, que vibra ao lhe dar vida no meio do palco, durante o espetáculo do Folopular.

É impossível não se arrepiar quando eles entram em cena, ao som de músicas populares e envolventes, ritmos culturais, são tantos componentes com rostos iluminados, muitos maquiados, brilhando, outros encoberto por máscaras coloridas, intrigantes, já outros com sorrisos largos, encantadores. São tanto brilho, tantas cores, uma aquarela pintada pelo imaginário da fantasia, e que nos dá asas para voarmos com eles nas canções de cada cena, no deslumbre de cada apresentação.
Assim é o Grupo de Dança Folopular quando invade o território do palco, também invade o nosso coração e nossas emoções, com um arrastão de cores, uma explosão de movimentos, giros e saltos, trazendo o reino cultural e de fantasia da nossa ancestralidade até nós. E trazendo muito orgulho e reconhecimento para a nossa cidade.
E para eles, vai os nossos agradecimentos em nome de Bezerros, por todo encanto e disseminação cultural que prestam à nossa cidade.
Diante de mais um pedacinho de uma história contada, nos despedimos por aqui. Ate breve!
Mariana Helena de Jesus