A NOSSA MATÉRIA DE HOJE É UMA DESPEDIDA AO ILUSTRE MESTRE DA XILOGRAVURA J. BORGES.

Alguns homens deixam seu nome na história, não porque viveram nesse planeta, mas pela maneira que talharam a sua trajetória com arte.

J. BORGES: ATRAVÉS DA ARTE CRIADOR E CRIATURA SE ETERNIZAM

Não foi mais um “José” ou mais um “Francisco” que partiu, foi um “José Francisco”, bezerrense, nordestino arretado, autodidata, artesão, xilogravurista, cordelista talentoso, de percepção e criatividade genial, e de sobrenome “Borges”, que aos esforços de suas mãos, talhando na madeira imagens sobre cenas reais ou figuras imaginárias, propagou a arte da xilogravura neste país, levando para o mundo a expressividade do seu talento incomensurável.

NOSSO GRANDE PATRIMÔNIO IMORTAL

J. Borges que foi intitulado Mestre da Cultura Pernambucana, sendo eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco, enalteceu pela maestria de suas mãos as xilogravuras inspiradas em suas vivências, críticas, acontecimentos e no imaginário, consolidando o reconhecimento artístico e cultural sobre a técnica da gravura na madeira e do cordel ilustrado por esse artifício.

O nome J. Borges ecoou pelo Brasil no cenário cultural e se internacionalizou, e juntamente ele levou para o mundo o nome de Bezerros, a sua amada cidade natal, e para onde ele trouxe os olhares da imprensa e dos amantes da cultura e das tradições populares, especialmente os iradores da xilogravura e do cordel. Seu talento cruzou fronteiras e sua arte foi apreciada por milhares de pessoas através de exposições em mais de vinte países, dos quais podemos citar Estados Unidos, Venezuela, México, Argentina, Cuba, Bélgica, França, Holanda, Alemanha, Espanha, Suíça, Itáia e Portugal. E em 2006, J. Borges foi considerado “Gênio da Cultura popular”, pelo jornal New York Times, e comparado a Pablo Picasso, um dos mais importantes artistas do século XX.

PROPAGADOR DA CULTURA

Não que J. Borges fosse o único nesse trabalho artístico e tão genuíno, outros grandes xilogravuristas há no Brasil, mas foi ele quem mais elevou a valoração dessa arte de tradição secular pelo mundo, contribuindo expressivamente para o “Movimento Armorial”, que inspirado pelas raízes populares, preza pela autenticidade da arte brasileira, e que foi instituído pelo inesquecível escritor Ariano Suassuna, também seu grande amigo.  

UMA LIÇÃO DE VIDA

Não só Bezerros que perdeu mais um de seus queridos e ilustres filhos, mas todos nós bezerrenses ficamos órfãos do maior gênio xilogravurista que nasceu em nossa cidade. Porém, não ficamos órfãos de sua arte e do seu legado. J. Borges nos honrou, nos inspirou, nos agraciou com seu talento e suas criações, sobretudo  nos deixou uma grande lição: não há tempos difíceis, nível de escolaridade, limitação financeira, idade e nem obstáculos que impeçam a arte de existir, quando o artista se determina a explorar seu próprio talento.

A MAESTRIA NAS MÃOS

Impossível era não se encantar e se irar com o “Mestre da Xilogravura” xilogravurando em seu ateliê. Ao longo dos anos, seus cabelos pretos, ando para o grisalho embranqueceram, como delicados capuchinhos de algodão, e as linhas de expressões que se transformaram em rugas na sua face e na pele de seus braços e mãos, mostravam não apenas a trajetória de uma vida e o envelhecimento daquele homem, mas o quanto aquele gigante artesão viveu atrelado à sua arte.  

A TRAJETÓRIA DE UM MESTRE

Diante de sua velha mesa companheira de trabalho, com sua paciência e concentração intrínsecas, cabeça baixa, costas curvadas, e o olhar sereno sob a cansada mira de sua visão, o Mestre da Cultura Pernambucana, J. Borges conduziu o seu ofício até o fim de seus dias. Manuseando suas ferramentas e o seu processo criativo com a maestria e habilidade de suas mãos, de maneira majestosa, batidas precisas, traços firmes, coordenação alinhada, desenhos da realidade ou do imaginário, dava vida às suas criações, e através dos movimentos suaves afastando as lascas resultantes das talhas, mais parecia estar fazendo um carinho na madeira, como se dissesse “fique calma que estou transformando você numa obra de arte”.

UMA LENDA POPULAR, UM LEGADO IMENSURÁVEL

Sem desmerecer o talento de nosso berço cultural de tantos brilhantes artistas bezerrenses, ouso dizer, que dificilmente teremos outro artista que consiga quebrar tantos limites, cruzar tantas fronteiras e produzir numericamente tanta arte como J. Borges fez. Incontestavelmente seu legado é incalculável, e sua obra é imortal.

J. Borges partiu porque cumpriu brilhantemente a sua missão. Resta-nos a gratidão pelo seu talento, por sua dedicação e legado, e nos agraciarmos com toda a herança cultural que ele nos deixou.

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